Terceira ViaKaesle Luna é estudante direito, atua com marketing digital e mídias sociais há mais de dez anos, e faz análises políticas por diversão, acreditem ou não.
Um país dividido entre uma vitória frágil e uma oposição desesperada tem muito com o que se preocupar. Se por um lado, a frágil vitória de Lula no segundo turno reforça a vitalidade de nossa democracia e resistência de nossas instituições, por outro, expõe uma sutura rompida de uma sociedade dividida sem qualquer esperança próxima de coesão.
Da última vez em que um candidato ganhou as eleições para presidência no segundo turno com uma diferença tão pequena, não concluiu seu mandato. Hoje, eleitores do Lula celebram uma vitória com uma diferença ainda menor que em 2014, e contam com uma oposição desesperada que envolve desde sua fé, a crianças chorando em total desespero durante a apuração de votos, capaz de furar qualquer barco para ver o novo governo petista afundando.
É preciso avaliar e repensar o modelo de oposição que existe no Brasil. O “quanto pior, melhor” foi uma regra nos últimos seis anos e não pode se repetir, independentemente do ressentimento. Precisamos de uma oposição que seja construção, que racionalize suas críticas e apoie o crescimento do país, sem se calcar em narrativas mirabolantes e acusações desproporcionais. A questão é qual lado estará disposto a dar este primeiro passo.
Uma reestruturação da direita, com novos parâmetros e protagonistas se faz urgente. Porque sim, a direita é fundamental para a manutenção da democracia em nosso país. Ideias e valores diferentes são o combustível do pleito democrático. Ao contrário do que muitos acreditam, a democracia não existe para viabilizar apenas governos de esquerda, embora estes termos estejam desgastados demais para representar uma coerência mínima em qualquer aspecto.
Ao bolsonarismo, fica a oportunidade de fazer uma autocrítica e rever suas alianças e protagonistas. Não se pode culpar o sistema por uma derrota eleitoral conquistada por uma péssima articulação política do partido, aliados que pegaram publicamente em armas na última semana, uma campanha estruturada em acusações sem provas e quatro anos de desgaste de imagem desnecessário.
Ao novo governo petista, deve ser exigida uma liderança menos soberba, que também exercite a autocrítica e seja capaz de construir um governo sem tantos recortes e contrastes ideológicos acentuados. Lula deve entender que não estamos em 2002, que uma política internacional no mesmo sentido não será tolerada por sua oposição em alerta e engatilhada, e que esta é a grande oportunidade petista para mostrar ao povo brasileiro que sua relação com os recursos públicos vai além de escândalos de corrupção.
Tamanha divisão política também sinaliza aos brasileiros que está na hora de considerarmos mudanças que viabilizem novas formas de governabilidade menos custosas aos cofres públicos e saúde física e mental do nosso povo. O presidencialismo no Brasil dá sinais graves de desgaste e apresenta um risco iminente para a nossa democracia e segurança. Em uma sociedade tão dividida, a alternância de seus governantes deve apresentar uma dinâmica que invoque menos instabilidade política, e onde os processos de destituição e renúncia são menos custosos para a sociedade e a política em si.
O que será de nós, uma sociedade que ao longo dos últimos 50 anos perdeu tanto capital financeiro quanto intelectual e moral, poderá ser definido nos próximos quatro anos, período fundamental para decidir se finalmente seremos capazes de superar nossa crise política e voltar nossa atenção para as deficiências estruturais que impedem o progresso adequado do país. Uma coisa é clara: a política, apesar de importante, não deve seguir protagonizando a rotina do país, mas apenas cumprindo sua função, que é viabilizar de forma democrática as soluções que precisamos para aproveitar nossa breve e tão frágil vida humana.
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